Histórias de Sucesso com Stephan Kirfel

Histórias de Sucesso com Stephan Kirfel

Este é o Stephan: alemão de nascença que se tornou brasileiro de coração. Com apenas 4 anos, Stephan se mudou para o Brasil, onde residiu primeiramente por 6 anos e meio. Nesse meio-tempo, a fim de estreitar o contato com a sua língua e cultura materna, ele tornou-se aluno do IEBA e acabou participando da nossa primeira Malaktion (iniciativa de pintar o muro da escola). Anos depois, Stephan regressou ao Brasil e hoje trabalha como piloto pela companhia aérea Azul, tendo como principal ambição profissional fazer um dia a rota São Paulo-Frankfurt. Convidamos vocês a lerem esta entrevista inspiradora de alguém que, como ele mesmo diz, aprendeu a enxergar o melhor de cada cultura.

1) Como você veio ao Brasil e por quanto tempo ficou por aqui inicialmente?

Eu vim para o Brasil em janeiro de 1980, tinha 4 anos. Meu pai aceitou uma transferência pela Bayer CropScience para Ribeirão Preto, onde montou uma turma que fazia pesquisas na área da agricultura. Ficamos 6 anos e meio.

2) Houve algum choque cultural de início? Qual (quais)?

Ah sim, com certeza. Mas como eu tinha só 4 anos, eu nem sabia o que estava acontecendo. Na época, ainda éramos só em dois: minha irmã mais velha e eu. Só com o tempo entendemos melhor que existia uma Alemanha lá do outro lado da “lagoa” e que era a nossa terra natal. Na época, íamos uma vez por ano para lá durante as férias. Certamente havia aquele forte efeito que a grama é sempre mais verde no outro lado da cerca. Depois, com o passar do tempo, você começa a entender melhor e consegue ver as coisas boas dos dois lugares. Hoje não gosto mais de comparar. Acho muito mais legal levar o bom de cada lugar! No final, a alegria é muito maior assim. Muita coisa, que na época era um choque cultural, hoje vejo como um enriquecimento. Hoje a minha percepção é de que, se você é uma “criança intercultural”, você desde o início tem uma vida mais cheia: em primeiro lugar, você cresce com duas línguas. Não me lembro de ter estudado as palavras da língua portuguesa, simplesmente fui alfabetizado uma segunda vez brincando com os amigos na rua. Quero incentivar todo mundo que tem a possibilidade de aprender uma segunda língua a começar com isso o mais cedo possível! Você ganha muito, muito mais do que só uma língua! 

3) Como você conheceu o IEBA? Como foi a experiência?

O IEBA conhecemos na infância, se não me engano em 1982. A minha irmã e eu fizemos aula de alemão para futuramente, quando voltássemos para a Alemanha, podermos nos integrar melhor na escola. A experiência foi muito legal, porque, à época, a aula já ia além de somente ser uma escola de alemão. As duas famílias criaram amizade desde aquela época. A comunidade de alemães em Ribeirão Preto se conhecia e mantivemos amizade até hoje! Tenho várias lembranças da época e hoje damos bastante risada, quando lembramos como o Rudi interditou a rua em frente ao IEBA para enfeitar o muro da escola com desenhos. Meu pai tocava saxofone na calçada e nós alunos enfeitamos a parede! Fiquei sabendo que esse procedimento foi repetido há pouco tempo! Pena que não pude ir, espero que tenham deixado um espaço para mim aí no muro 🙂

4) Atualmente, você trabalha como piloto pela companhia aérea Azul. Como falar português e alemão te ajudou no mercado de trabalho do Brasil?

Tenho o sonho (e, sem dúvida, isto seria o topo da minha carreira) de fazer a rota São Paulo-Frankfurt para poder levar pessoalmente toda família e amigos! Com certeza os Schallenmüller serão passageiros frequentes na rota e aí, certamente, farei a fala de boas-vindas em alemão e os convidarei para a cabine! Evidentemente, falar português e alemão é um “plus” quando você trabalha em empresa internacional. Mas, pensando bem, a questão de falar duas línguas me ajudou de maneira bem diferente e eu demorei para entender isso. Vou ter que dar uma volta para explicar:

Em 2009, o mercado de trabalho para piloto na Alemanha estava muito ruim. A empresa em que trabalhava, a LTU, estava quase falindo e resolvi tirar uma licença para ver o que havia no Brasil. Logo comecei a estudar para convalidar as minhas licenças e, assim, poder trabalhar no Brasil. Entre outras exigências, era necessário passar na prova de regulamentos aéreos da ANAC. Como eu pratiquei pouco português desde que tinha voltado e, além do mais, a prova continha muitas palavras técnicas que eu desconhecia, isso acabou se apresentando como um problema. No entanto, como já tinha falado melhor o português na infância, eu sabia que era possível. Eu acredito hoje que muitas vezes temos ou criamos desnecessariamente barreiras na cabeça e, somente por isso, deixamos de fazer algo na vida. Muitas vezes o que decide sobre falha ou sucesso é simplesmente ser capaz de quebrar essa barreira e começar e fazer. Aceitar erros, corrigir e prosseguir. Em alemão, existe um ditado para isso: „Hinfallen, aufstehen, Krone richten, weitergehen“. Seria: Cair, levantar, ajeitar a coroa, prosseguir. Aprendi hoje que o ditado aqui seria: “Cair, sacode a poeira e dá a volta por cima”, ou seja nunca desistir. Eu então hoje acredito que ser alfabetizado em duas línguas e viver duas culturas ainda na fase da infância me mostrou desde muito cedo que quase tudo é possível. É muito simples o raciocínio: Se eu era capaz de aprender 2 línguas com aquela idade, a maioria das coisas a serem aprendidas ou realizadas nesta vida pareciam menos complicadas do que isso. Hoje conheço várias famílias “interculturais”, nas quais as crianças crescem falando português e alemão. Dessa forma, eu acho que aprender duas línguas, além de abrir muitas portas no mercado de trabalho, pode ser uma experiência muito enriquecedora para a personalidade de qualquer um de nós. O cérebro humano é muito mais capaz do que achamos e, uma vez que quebramos as barreiras mentais, o céu é o limite. 

5) No momento, muitos brasileiros pensam em se mudar para fora, seja temporária ou definitivamente. Você, no entanto, fez o movimento contrário, se mudando da Alemanha para cá. O que te levou a tomar essa decisão?

Esta pergunta é engraçada, porque acho que filhos de estrangeiros têm a tendência a repetir o que os pais fizeram. Eu vim ao Brasil, minha irmã mais velha foi para Londres. E tem outros exemplos como esses na “família do IEBA”. Para mim, foi uma coisa lógica vir ao Brasil, quando a empresa que trabalhava na Alemanha quebrou. De certa maneira, estava voltando para casa e não imigrando para um lugar desconhecido. Agradeço muito meus pais que tiveram a coragem de vir ao Brasil em 1980. Eles não conheciam o país, tinham que aprender o português e conhecer a cultura. Na Alemanha, em 2010, achávamos que o euro ia quebrar e voltaríamos para o marco alemão. A crise era uma realidade também no setor da aviação. No mesmo momento, o Brasil estava em crescimento. Se falava dos países BRICS, surgiu a Azul e assim vai. Do ponto de vista econômico, era lógico na época vir ao Brasil, fácil se esquecer disso… Hoje, quando alguém me pergunta onde é melhor, eu respondo que não sei. Difícil comparar dois países, a medida é diferente para qualquer um. Tem coisas boas nos dois lugares. 

6) Você tem alguma dica/recomendação para brasileiros que planejam aprender alemão e, eventualmente, passar uma temporada na Alemanha?

Sim: FAÇAM.

A experiência de aprender uma nova língua e conhecer uma nova cultura nos traz muito mais do que imaginamos!



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